Epístola aos Filipenses

23-09-2010 14:53

Filipos
A primeira menção que o Novo Testamento faz de Filipos se encontra em At 16.12. Nesse texto, lemos que se tratava de uma importante “cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia”, evidentemente romana. O seu nome primitivo havia sido Krênides, que significa “lugar das fontes”, mas, quando em 360 a.C., o pai de Alexandre Magno, o rei Filipe II da Macedônia, conquistou a cidade, trocando aquele antigo nome pelo seu próprio.
Filipos estava situada sobre a célebre “Via Egnatia”, que ligava Roma com a Ásia Menor. Elevava-se a uns 12 km da costa norte do mar Egeu, junto ao limite da região macedônica com a da Trácia. Submetida a Roma desde o ano 167 a.C., a partir de 31 a.C., com a categoria de colônia e por regulamentação do césar Otávio Augusto, gozou dos privilégios e direitos que as leis do império outorgavam às cidades romanas.

A Igreja em Filipos
Foi fundada por Paulo em sua segunda viagem missionária por volta dos anos 51 a 53 a.C., esta foi a primeira igreja a ser estabelecida por ele na Europa (At 16).
Paulo foi para esta região após receber uma visão: “Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou um homem da Macedônia, que lhe rogava: Passa à macedônia e ajuda-nos.” (Atos 16.9).

O relacionamento de Paulo com a igreja de Filipos
O relacionamento de Paulo com a igreja em Filipos sempre foi íntimo e cordial. A igreja de Filipos já havia o ajudado por duas vezes antes de a carta ser escrita (4.16). Ao saber de seu aprisionamento em Roma, a igreja enviou Epafrodito com outra oferta. Paulo, por sua vez, procura retribuir o mesmo carinho e amor pelos filipenses, provando com isso, que o amor era recíproco1.
Não há, da parte de Paulo, repreensões severas nem se nota um coração magoado devido a desordens sérias. Havia, é verdade alguns problemas que são vistos nas entrelinhas, dentre eles: rivalidades e ambições pessoais (2:3-4; 4:2), o ensino dos judaizantes (3:1-3), o perfeccionismo (3:12-14), e a influência de libertinos antinomianos2 (3.18,19). Apesar disso o apóstolo cria uma atmosfera de união e amor pelo uso frequente de expressões que sugerem comunhão e cooperação, tais como “cooperador”, “companheiro de lutas” e semelhantes, sugerindo a idéia de união e camaradagem.

Tema
O tema desta carta pode ser resumido da seguinte forma: a alegria da vida e do serviço cristão, manifesta em todas as circunstâncias.

Data
Esta carta foi escrita por volta do ano 64 d.C., possivelmente durante a primeira prisão de Paulo em Roma.

Local de Escrita
Segunda Viagem Missionária de PauloPaulo estava preso quando a carta foi escrita, mas há discordâncias quanto a exatamente em qual cidade. Alguns pensam que foi em Cesaréia, outros em Éfeso; no entanto, ele deve ter escrito a carta de Roma, indubitavelmente. Em 1:13 ele menciona o pretório ou a guarda pretoriana, uma tropa romana de elite, destacada para assistir o imperador em Roma (veja também 4:22). Também é claro que, no julgamento que defrontava, Paulo estava com a vida em jogo, indicando que o julgamento seria conduzido perante César, em Roma (1:20). Embora Paulo tivesse estado preso em Cesaréia por dois anos, nenhuma decisão final para o seu caso fora sequer aventada ali (At 24). Éfeso tem sido sugerida como local de escrita, com base em 1 Co 15:32, mas, esse versículo não traz qualquer indicação clara do aprisionamento.

Por que foi escrita
Epafrodito, o mensageiro da Igreja dos filipenses, ao qual foi confiada uma oferta para o apóstolo, ficou doente quando chegou a Roma. Restabelecido, voltou a Filipos, e Paulo aproveitou sua volta para enviar uma carta de agradecimento e exortação à igreja, sobre a qual Epafrodito tinha informado Paulo.

Conteúdo
Uma das mais importantes passagens doutrinárias do Novo Testamento é Filipenses 2:5-8; nela Paulo apresenta a doutrina da “kenosis”3 - a auto-humilhação ou auto-esvaziamento de Cristo. 4:6-7 são versículos importantes sobre oração. Outros versículos favoritos da carta são 1:21, 23b; 3:10, 20; 4:8, 13. Um retrato autobiográfico significativo aparece em 3:4-14.

Esboço
I. A situação e o trabalho de Paulo em Roma (cap. 1)
II. Três exemplos de abnegação (cap. 2)
III. Advertências contra o erro (cap. 3)
IV. Exortações finais (cap. 4)

I. A SITUAÇÃO E O TRABALHO DE PAULO EM ROMA (cap. 1)
1. A saudação de Paulo (1.1-11).
2. Sua alegria na prisão (v. 12.30):
a) Alegria apesar da prisão (v. 12-14), porque causou o progresso do evangelho. A notícia de sua prisão foi divulgada por todas as instalações militares, e dali, a outras partes da cidade. Os cristãos em Roma forma motivados para um esforço evangelístico por sua coragem;
b) Alegria apesar daqueles que, levados pelo espírito partidário, pregam o Evangelho por motivos falsos (provavelmente os judaizantes – v. 15-18). O apóstolo, porém, alegra-se, uma vez que cristo é proclamado;
c) Alegria, apesar da perspectiva de morte (v. 19-30). Pouco importa ao apóstolo viver ou morrer, porque o seu desejo é glorificar a Cristo, em qualquer circunstância. Seria melhor para ele morrer e estar com Cristo; contudo ele prefere viver para terminar sua obra e aperfeiçoar a fé dos filipenses. Tem esperança de ser posto em liberdade e poder visitá-los. Mas, seja qual for o seu destino, ele deseja que andem de maneira digna do Evangelho, proclamando sua mensagem apesar da perseguição que possam sofrer.

II. TRÊS EXEMPLOS DE ABNEGAÇÃO (cap. 2)
Paulo começa com uma exortação à união, que corria o risco ser arruinada por algumas diferenças insignificantes entre os cristãos (v. 1,2).
Essa união deveria ser efetivada por eles, mediante o espírito de humildade e abnegação (v. 2,3). “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (v. 4). O apóstolo, em seguida, cita três exemplos de pessoas cujo princípio de vida era o sacrifício pelos outros.
1. O exemplo de Cristo (2.5-16), que, embora fosse igual a Deus, esvaziou-se de seu poder e humilhou-se até a morte na cruz em benefício de outros.
O apóstolo acrescenta uma tríplice exortação:
    a) À perseverança na fé (v. 12,13);
    b) À obediência (v. 14-16);
    c) À atividade missionária (v. 16).
2. O exemplo de Timóteo (2.17-24), ministro que incorpora perfeitamente a exortação de Paulo no versículo 4 (cp. V. 20,21).
3. O exemplo de Epafrodito, cristão que livremente consumiu sua vida por outros. Semimorto por excesso de trabalho estava angustiado, não por causa da própria aflição, mas porque a notícia de sua doença causou tristeza em outros.

III. ADVERTÊNCIAS CONTRA O ERRO (cap. 3)
1. Advertência contra o legalismo (3.1-14). Quem não estiver familiarizado com os mestres a quem Paulo se refere considerará por demais severas as expressões “cães” e “os que praticam o mal”, mas o apóstolo viu na doutrina que pregavam, da salvação pelas formas exteriores da Lei, algo que destruiria a vida e a fé cristãs. Por isso denuncia os judaizantes como inimigos do evangelho. Paulo podia vangloriar-se tanto quanto esses mestres judaizantes dos privilégios sociais e religiosos (v. 4-6), mas tinha rejeitado todos eles como esterco (v. 7,8), para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele tendo a justiça da fé, e não da Lei (v. 9,10). A justificação e santificação pela fé em Cristo não lhe proporcionariam uma segurança descuidada, porque ele ainda avança tendo alvo a perfeição que será consumada na primeira ressurreição (v. 11-14).

2. Exortação à união na doutrina (v. 15,16). Aqueles que são espiritualmente maduros devem buscar a perfeição cristã mencionada por Paulo e estar de acordo com ela. Se houver diferenças insignificantes, em coisas essenciais, Deus as esclarecerá. Esses versículos revelam o assunto que causava divisões entre os filipenses: a perfeição cristã.

3. Advertência contra o antinomismo (v. 17-19). Do lado judaico, a igreja estava exposta ao perigo do legalismo; do lado dos gentios, ao do antinomismo. A adesão a essa doutrina causava muitas vezes a destruição da fé e pureza.

4. Exortação à santidade (v. 20,21). Os cristãos devem manter uma conduta celestial, por terem uma esperança celestial, a esperança de glorificação na vinda do Senhor.

IV. EXORTAÇÕES FINAIS (cap. 4)
1. Exortações:
a) À firmeza (v. 1);
b) À unanimidade (v. 2);
c) À cooperação com os cristãos leigos (v. 3);
d) À alegria (v. 4);
e) À tolerância e mansidão (v. 5);
f) À libertação da ansiedade (v. 6,7);
g) À preservação de uma mente santa (v. 8);
h) À prática do cristianismo (v. 9).

2. Agradecimentos aos cristãos pelas suas dádivas (v. 10-20).

3. Saudações e bênçãos (v. 21-23).


Referências Bibliográficas
A Bíblia Anotada – Ed. Mundo Cristão.
Através da Bíblia livro por livro – Myer Pearman – Ed. Vida.
Wikipédia, a Enciclopédia Livre.


1 - Do latim “reciprocus”. É a correspondência mútua entre pessoas ou grupos.
2 - Estes eram hereges que ensinavam que se a salvação é pela graça não havia necessidade de obediência a Cristo e a sua Palavra.
3 - Que significa esvaziamento. É encontrado no novo testamento como o esvaziamento de Jesus (Fl 2.7), esta relacionado à sua divindade, mas precisamente ao deixar de lado seus atributos divinos sem perder sua natureza divina. Jesus deixa de depender de seu poder divino para depender do Espírito Santo. Na Teologia precisamente na matéria Cristologia é conhecida como: “A DOUTRINA DO ESVAZIAMENTO DE JESUS CRISTO”.